Não crescemos,
Não amadurecemos,
Depois de oitenta anos
Daqueles venenos.
Não foram dez ou mil,
Foram onze milhões
De almas queimadas
E corações.
Nós falamos que
Nos adiantamos,
Televisões, smartphones
Que inventamos
Mas continuamos iguais,
Seguindo a mesma voz que grita
Pra esmagarmos inimigos
Que são iguais a nós.
Queremos ficar sós?
Quantos fuheres no mundo
Lançaram dor
Até que todos entendamos
Que ninguém é superior?
Quantas pessoas gritarão
Para destruir o amor
Até com a história aprendermos
O que quer que for?
Vermelho-sangue mancha
O azul do céu
As estrelas condecoram generais
E as listras, como grandes,
Nos trancam atrás.
Soldados marcham para o tanto-faz,
Esmagam flores, os valores
Da nossa paz.
Tanta riqueza não os satisfaz
E o povo grita
“matem, matem mais”.
Nós falamos que evoluímos,
Armas e bombas nucleares que construímos.
Mas continuamos iguais
Fazendo órfãos, pais sem filhos,
Separando casais.
A sociedade faz muros
Pensando serem torres
Pra deixa-los seguros
Dos próprios horrores
Torres para “reerguer”,
Se eles nunca caíram
Nunca nem saíram
Do patamar mais alto que dizem ser seu lar
Ainda maldizem o além-mar,
O além sul, que dirá.
Dão adeus aos mexicanos,
Islâmicos,
Africanos,
Mas não dão tchau pra seu próprio
Fascismo desumano
Bandeira nacional americana
Quer ser ariana
Puramente estúpida,
Machista e branca
Acham-se mais que eu?
Não lembra o que aconteceu?
Tanta gente morreu
Oitenta e poucos anos atrás.
Ousa dizer “tanto faz”?
Eles são seus iguais.
Você não quer perder o emprego?
Eles perderam tudo
Menos o sofrimento que você os trás
Você quer dominar?
Vamos, construa seu castelo
De sorrisos afogados
Em um mar sem paz.
Nascido em berço de ouro
Tomou posse do tesouro
E gritou pra quem não tinha nada
Que é o mérito que traz
E eles saíram de suas casas
Para o vazio do mundo
Para viver na sarjeta
Para se sentirem mudos
Para que o véu cubra
Sua identidade, sua vida, suas cores
Classificando-os como impostores
Escondendo suas dores
Seu sacrifício, seus amores.
Esse ódio ao diferente
Eu já vi em algum lugar
Esse chamado “presidente”
Eu já vi em algum lugar
Esses gritos de inocentes
Eu já vi em algum lugar
Essa história não é recente?
Ou é de um século atrás
Será a terceira vez?
Iremos destruir o mundo que Deus nos fez?
Judeus, latinos, muçulmanos, direi adeus?
Será a terceira vez?
Texto da "Sociedade dos poetas vivos".
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